Uma jornada de superação, determinação e pioneirismo na área de segurança cibernética.
Conheça como a deficiência visual se transformou em força motriz para quebrar barreiras
e inspirar uma nova geração de profissionais inclusivos.
O Início: Nascimento Prematuro e Primeiros Desafios
Eu nem sempre fui cego, pelo menos, não totalmente. Nasci prematuro, com apenas seis meses de gestação.
A placenta da minha mãe se descolou antes do tempo, e ela acabou "nascendo" primeiro que eu.
Meu nascimento foi considerado um milagre, pois consegui sobreviver mesmo diante de tantas complicações.
Dois dias após o nascimento, fui diagnosticado com um sopro no coração e precisei passar por uma
cirurgia urgente. Graças a Deus, tudo correu bem, embora as chances fossem mínimas. Fiquei dois
meses na incubadora, e logo em seguida recebi o diagnóstico de cegueira no olho esquerdo.
Descobriu-se que o túnel de visão entre o cérebro e o olho estava completamente fechado —
uma condição sem cura até hoje.
A Perda Progressiva da Visão
Com o olho direito, enxergava cerca de 80% a 90%, mas, com o tempo, fui desenvolvendo catarata.
Aos nove anos, perdi completamente a visão do olho direito. Inicialmente, não entendia o que estava
acontecendo. Batia nas paredes, errava as linhas ao escrever no caderno... Foi um período de
adaptação muito difícil.
Comecei a ler aos três anos de idade. Algumas pessoas me chamavam de prodígio, mas nunca me vi assim.
Aos poucos, fui sendo integrado à sala de recursos da escola, onde conheci um software chamado
DOSVOX — uma ferramenta falada com recursos educativos e acesso a jogos, YouTube, criação de
textos e navegação em diretórios. Foi a partir daí que surgiu minha paixão pela informática.
Descobrindo a Tecnologia e os Games
Mesmo sem enxergar, eu já jogava videogame. No início, foi desafiador, mas, com treino, passei a
jogar apenas pelo som. Cheguei a ganhar campeonatos na rua e no fliperama. Jogava no PlayStation 2
e ganhava até dinheiro apostando ficha!
Aos 10 anos comecei a usar computador. Criava sites, programas e já explorava a área de segurança
digital — mesmo sem entender muita coisa ainda. Aos 14, me aprofundei em programação, aprendendo
o básico de JavaScript e Python, e, com 17, me apaixonei pela cibersegurança. Passei a estudar
engenharia reversa e malwares por conta própria, o que me levou a ingressar na faculdade de
Defesa Cibernética.
Sobre o Leitor de Tela
O leitor de tela é um software essencial para pessoas cegas. Ele transforma em áudio tudo que
fazemos no computador ou celular: teclas digitadas, cliques, navegação, leitura de documentos, etc.
No Windows, usamos o NVDA (NonVisual Desktop Access), gratuito e de código aberto, desenvolvido
em Python. No celular Android, usamos o TalkBack, desenvolvido pelo Google. O Windows também tem
um leitor de tela nativo chamado Narrador, que pode ser ativado com a tecla Ctrl + Windows + Enter.
Além disso, existem complementos que melhoram a experiência com o NVDA em programas como Word,
Excel, Teams, entre outros. Já contribuí com dois complementos para a comunidade.
Como o leitor de tela não lê imagens sozinho, utilizamos ferramentas com inteligência artificial,
como o Be My Eyes, um app em que voluntários com visão ajudam cegos descrevendo fotos e vídeos,
além de haver suporte por IA.
Autonomia e Inclusão
Hoje, temos muito mais autonomia do que no passado. Temos bengalas, piso tátil, cão-guia, leitores
de tela, lupas e diversos aplicativos que nos ajudam a estudar, trabalhar e viver com dignidade.
Na empresa onde trabalho, a Metadados, utilizo meu leitor de tela normalmente, e a equipe foi
muito receptiva às minhas necessidades.
Já sofri bullying na infância, sendo chamado de "caolho", "vesgo" e outros nomes ofensivos.
Mas aprendi que é preciso impor limites quando a brincadeira se transforma em maldade. Nunca quis
que sentissem pena de mim — quero que as pessoas entendam que uma pessoa com deficiência pode ter
uma vida plena, formar uma família, trabalhar, conquistar sonhos. Eu sou casado, e, acreditem,
ainda tem gente que se espanta com isso!
"Para ele, acessibilidade vai além da tecnologia — trata-se de empatia, respeito e oportunidade.
Juan acredita que, com adaptação e apoio, qualquer pessoa pode alcançar seus sonhos.
Seu lema é simples, mas poderoso: 'Sou brasileiro, e nunca desisto'."